O efeito devastador do crack na saúde do viciado,
que vai definhando com a droga, não é a principal causa de morte desses
usuários. Mais da metade deles é vítima da violência: uma pesquisa da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sobre a causa de morte de quem
consome a droga — a única feita até hoje no país sobre o tema — revela que
56,5% dos viciados são assassinados.
A Aids, responsável por 26% dessas mortes,
vem em segundo lugar. A overdose da chamada “droga da morte” mata menos de 9%
dos usuários, de acordo com o levantamento.
— As pessoas que consomem o crack têm morrido mais
das mortes violentas do que de qualquer doença grave. A proporção é muito maior
do que na população geral. A vida fica mais curta porque, com a droga, o
usuário tem que se relacionar com um mercado ilegal — explica o psiquiatra
Ronaldo Laranjeira, do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, responsável pela
pesquisa.
O pesquisador acompanhou 131 dependentes da droga,
internados entre 1992 e 1994, na Clínica de Desintoxicação em Álcool e Drogas
do Hospital Geral de Taipas, no interior paulista. Os pacientes ou seus
parentes foram ouvidos em 1996 e 1999. Nesse ano, 23 dos dependentes, ou quase
18% do total, já haviam morrido.
— O consumo do crack pode matar na primeira vez que
a pessoa experimenta a droga, mas vemos que muitas pessoas morrem de questões
secundárias. Brigam na rua, se envolvem com o crime ou ficam devendo dinheiro
para o traficante
As consequências do crack são imediatas, principalmente na
aparência do usuário. De acordo com a psiquiatra Maria Tereza de Aquino, a
mudança que se observa mais rapidamente é o emagrecimento.
— Um paciente meu emagreceu 20 quilos em uma
semana. A perda de peso, num primeiro momento, é o que mais impressiona. Os
dependentes ficam sem comer. Alimentam-se da droga — conta a psiquiatra da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Na boca, as marcas do vício
A destruição do crack também é visível pelas
queimaduras na boca e pela deterioração dos dentes dos viciados. A
cirurgiã-dentista Sandra Crivello, que trabalha com a reabilitação de
dependentes químicos em São Paulo, explica que os usuários do crack são
facilmente identificados pela boca.
— Há alguns sinais específicos. A boca, por
exemplo, fica com marcas de queimaduras, já com a formação de calos
esbranquiçados, após tantas lesões na mesma área — explica ela.
A rapidez e a intensidade dos efeitos do crack,
segundo o psicólogo Pablo Roig, dono de uma clínica de reabilitação de
dependentes químicos há 30 anos em São Paulo, são responsáveis pela decadência
que a droga causa.
— Em questão de segundos, o crack age no cérebro do
usuário. Quanto mais rápida é a droga, mais rápida é a dependência que ela
cria. O crack tem uma capacidade destrutiva intensa. O usuário não o consome
porque quer, mas porque precisa — explica, acrescentando que 30% dos que usam
crack há mais de cinco anos acabam morrendo pelos efeitos da droga.
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