É crescente o fortalecimento da tese
de que a repressão policial ao consumo de maconha pode provocar problemas
piores do que aqueles causados pela própria droga.
Mas também preciso debater a
temática da repressão e do preconceito dentro da esfera familiar, que pode ser
responsável por problemas ainda mais complicados.
O principal efeito nocivo da repressão feita por
familiares está no processo de isolamento sofrido pelo usuário. Sofrendo todo
tipo de preconceito das pessoas que o cercam, o usuário fica ainda mais
vulnerável a um perigoso processo de marginalização que pode resultar em um
final trágico, já que o abandono e o preconceito podem facilmente resultar em
abalos psicológicos graves. Dependendo da droga consumida, esta problemática
pode resultar em um coquetel de problemas com um tratamento ainda mais
complicado.
Para o usuário criminalizado por todos os lados, o uso de
drogas - que pode ter começado por um interesse recreativo - pode facilmente
migrar para uma válvula de escape para o alívio de uma depressão. Uma situação
como esta pode levar a um aumento do consumo ou para uma terrível migração para
drogas mais pesadas.
É preciso lembrar que no caso da maconha não existe
nenhuma evidência científica que confirme que o consumo de cannabis desperte o
interesse por drogas. O que pode funcionar como uma verdadeira porta de entrada
para outras drogas é este processo de aversão e demonização do usuário dentro
do ambiente familiar. Para quem é excluído e desprezado a solução por ser uma
busca ainda maior por estados alterados de consciência.
Este ambiente de forte intolerância ao consumo de drogas
foi comprovado por uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, ligada
ao Partido dos Trabalhadores (PT). O sentimento de repulsa ou ódio a usuários
de drogas foi confirmado por 17% dos entrevistados. Outros 24% revelaram que possuem
antipatia a quem utiliza alguma droga ilícita.
Perguntados sobre o tipo de pessoas que não gostariam de
encontrar, 35% responderam que são os usuários de drogas, seguidos pelos
descrentes em Deus (26%) e ex-presidiários (21%). Na pesquisa realizada em
junho de 2008 foram ouvidas 2.014 pessoas acima de 16 anos de 150 municípios do
Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
Na busca por uma resposta sobre a causa deste cenário de
aversão e preconceito a usuários de drogas podemos encontrar múltiplas
respostas. Mas a principal está no estigma criado em grande parte pelos meios
de comunicação e pelas campanhas antidrogas que tentam diminuir o consumo pela
cultura do medo. Enquanto as informações sobre os reais problemas causados pelo
consumo de drogas não atingirem as massas esse quadro dificilmente será
alterado.
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