É muito difícil convencer alguém a não fazer algo que lhe dá
prazer - e a droga, antes de qualquer outra coisa, é algo que oferece prazer
imediato.
Por causa disso, fazer
terrorismo com histórias macabras ou exagerar na descrição dos efeitos das
drogas só piora as coisas: a maioria dos jovens são melhor informados sobre
drogas do que os próprios pais, mesmo quando não são usuários. Portanto, a prevenção ao uso de drogas começa muito antes.
Para o psiquiatra Flávio Gikovate, a prevenção passa necessariamente por um tipo de educação não apenas aberto ao diálogo, mas também à independência. "O tipo de educação que se vê hoje cria adolescentes fracos. E um ser imaturo, sem paixão, que não consegue enxergar a vida com seriedade, é altamente predisposto à influência do meio".
Mas este "meio" não são apenas os amigos, embora a pressão do grupo seja um fator importante, ainda mais nesta idade: "Os exemplos que o adolescente tem em casa também contam muito. Muitos deles ouvem discursos que os incentivam à responsabilidade e ao auto-controle, por exemplo, mas vêem os pais comendo compulsivamente, bebendo, ou fazendo coisas irresponsáveis. Isto não significa que os pais estejam sendo levianos ou mal intencionados, mas é importante que os pais observem a coerência entre o que dizem e o que fazem".
Incentivar os filhos a terem uma vida saudável e produtiva, portanto, é a melhor forma de mantê-los longe das drogas e de outros tipos de dependência, como a do consumo, do jogo e tantas outras. Dar-lhes suporte afetivo e cuidar de sua auto-estima são tarefas muito mais complexas, mas também mais eficazes tanto para evitar o problema das drogas, quanto para formar adultos mais corajosos e conscientes de si mesmos.
"Cada ser humano tem uma história diferente, não existe uma
fórmula que explique como, porque ou com que conseqüências um jovem procura as
drogas", afirma o psicoterapeuta Flávio Gikovate, autor de livros como:
Drogas
- Opção de Perdedor e A Arte de Educar. "No
entanto, é possível dizer que o abuso de drogas por adolescentes é uma das
conseqüências da cultura imediatista, desapaixonada e carente de novas idéias
que vivemos nos últimos anos", afirma. Gikovate também destaca que a
dependência das drogas não difere de outras como o comer ou o consumo
compulsivo, que também cresceram muito nos últimos anos. "Vivemos numa
sociedade que estimula a dependência, e que reprime os gestos autônomos com
muito rigor, fazendo com que as pessoas busquem conforto em algo de que
dependam".
Especialmente nas últimas
décadas, em que as drogas viraram moda, diversas pesquisas científicas tentam
identificar os motivos pelos quais o ser humano recorre às drogas: seria a
influência do grupo, a insegurança diante da vida, a necessidade de aplacar a
dor ou a fome, a busca do prazer? "Na verdade, o homem pode buscar a droga
por todos esses motivos. Mas, entre os adolescentes, a droga tem uma relação
direta com a falta de perspectivas, com o tédio, com a dificuldade de lidar com
a vida de forma responsável. Não se sabe ao certo se esses aspectos são a causa
ou o efeito da droga, mas o adolescente com pouco interesse pela vida e pelos
relacionamentos humanos está mais propenso a procurá-las".
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