Na verdade, o potencial da maconha
para induzir dependência é menor do que o de outras drogas, como o álcool e a
nicotina. Todavia, esse potencial existe e não pode ser negligenciado.
Pessoas dependentes estão constantemente pensando
na droga, fazem uso recorrente e freqüente, apresentam prejuízos sociais,
familiares, escolares ou laborais relacionados ao consumo inadequado. Muitas
vezes, os dependentes tentam cessar o uso, mas têm dificuldade para fazê-lo.
Isso nem sempre ocorre entre pessoas que fazem uso freqüente da droga.
Às vezes, entre usuários de maconha,
bem como de outras drogas, deve-se investigar o porquê do uso regular ou
freqüente da substância. Vários outros problemas podem estar subjacentes ao
uso freqüente, como ansiedade, sintomas depressivos, irritabilidade, sentimentos
de inadequação social, dentre muitos outros. Por exemplo, o adolescente pouco
adaptado na escola que consome maconha todos os dias, seguramente tem algum
problema que precisa ser investigado.
Uma droga não é boa ou má por si só. Por exemplo, a morfina, que é uma
importante medicação para o tratamento de quadros dolorosos crônicos, pode
ser utilizada de forma amplamente inadequada pelos próprios pacientes ou por
pessoas que a utilizam com propósitos recreativos. A Síndrome de Dependência de Maconha é uma doença, com raízes
neurobiológicas, genéticas e psicossociais que acomete cerca de 1% da
população brasileira, considerando a faixa etária entre 12 e 65 anos. Isso é
um fato.
Quais malefícios a maconha pode
causar ao organismo?
Existem várias complicações
decorrentes do consumo de maconha à saúde mental e física, tanto durante a
intoxicação quanto após o consumo crônico da droga.
Naturalmente, os efeitos agudos e crônicos da maconha dependem da quantidade
da droga utilizada, da susceptibilidade individual e do tempo de consumo.
Embora esta substância seja geralmente fumada, às vezes ela pode também ser
ingerida. É bom lembrar que, em relação à maconha, as taxas de absorção oral
são mais elevadas (90% a 95%) e lentas (30 a 45 minutos) em relação à
absorção pulmonar (50%). Isso pode contribuir para a intensidade e duração
dos efeitos da droga. Os efeitos farmacológicos pela absorção pulmonar podem demorar entre 5 a 10
minutos para iniciarem. Devido à alta solubilidade da maconha em gordura, a
droga acumula-se principalmente nos órgãos onde os níveis de gordura são mais
elevados (cérebro, testículos e tecido adiposo). Alguns pacientes podem
exibir os sintomas e sinais de intoxicação por até 12 a 24h, devido à liberação
lenta da droga a partir do tecido gorduroso. Quanto às complicações do uso da maconha, segue um breve resumo:
a) Durante a intoxicação:
Como efeitos físicos, podemos citar a taquicardia, boca seca, tontura,
retardo psicomotor, redução da capacidade para resolução de problemas,
incoordenação motora, broncodilatação, tosse. Como efeitos psíquicos, podemos citar prejuízo da concentração e da atenção,
prejuízo do julgamento, precipitação de crises de pânico, prejuízo da memória
de curto prazo, sensação de que o ambiente está diferente, alucinações e
ilusões, prejuízo da percepção de tempo e espaço.
b) Complicações do uso crônico:
Como efeitos físicos, devemos lembrar que a fumaça da maconha é altamente
irritante para a nasofaringe e o revestimento brônquico e, portanto, aumenta
o risco de tosse crônica e outros sinais e sintomas de patologias
respiratórias. O uso crônico de maconha, às vezes, está associado com ganho
de peso, provavelmente em decorrência do aumento do apetite e da redução da
atividade física. Sinusite, faringite, bronquite com tosse persistente,
enfisema e displasia pulmonar podem ocorrer com o uso crônico e pesado. A
fumaça da maconha também contém carcinógenos, sendo que o uso pesado pode
aumentar o risco para o desenvolvimento de doença maligna. Alguns estudos
apontam para maior risco de acidentes vasculares cerebrais entre usuários de
maconha, bem como redução na produção de testosterona; entretanto, ainda
esses estudos carecem de melhor averiguação. Como efeitos neuropsiquiátricos, podemos citar prejuízos da memória e
atenção, outros prejuízos cognitivos relacionados à organização de
informações complexas e piora da atenção seletiva. Um quadro conhecido como
“síndrome amotivacional”, onde os pacientes apresentam-se apáticos, com pouco
ou nenhum interesse pelas atividades de rotina e péssimo desempenho no
trabalho ou escola tem sido descrita para dependentes de maconha. É importante ressaltar que vários quadros psiquiátricos, como depressão,
ansiedade e transtornos psicóticos (Esquizofrenia) podem ser agravados com o
abuso desta e de outras substâncias.
Meu marido fuma maconha e eu não
aceito isso
O que posso fazer para ele largar de fumar? Até que ponto afeta seu
metabolismo? Estas situações onde um dos cônjuges faz uso inadequado de alguma substância
psicoativa e o outro não aceita ou repudia o consumo é mais comum do que se
pensa. A primeira coisa a se fazer é deixar clara a posição de não-aceitação.
Estabelecer limites é fundamental para qualquer tratamento em dependências químicas.
Você deve ser honesta com o seu posicionamento e deve conversar com o
parceiro sobre os problemas conjugais que o consumo da droga pode estar
provocando e os riscos que esse uso pode render tanto ao usuário quanto à
família. Nos programas de tratamento para dependentes químicos, os familiares devem
estar envolvidos, objetivando um melhor resultado terapêutico. O tratamento
dos familiares dos dependentes não deve ser entendido como uma forma de
acusar os membros da família como “causadores” do problema, mas sim como uma
consideração ao sofrimento pelo qual a família passa. Mesmo que o seu marido
não deseje tratamento, você deve procurar auxílio profissional com
especialista. Com isso, você poderá, além de ajudá-lo, estruturar-se para
combater o problema. Lembre-se: a família do dependente adoece também. Quanto a segunda pergunta, o consumo crônico de maconha pode afetar o
psiquismo e o organismo de formas diferentes. Eu apontei alguns problemas na
resposta anterior. Nem todas as pessoas apresentam as mesmas complicações
pelo uso da mesma substância. Seguramente, no momento em que ele resolver
iniciar um tratamento, ele será adequadamente examinado quanto às
complicações.
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